Opinião – 4420 – Pedro Miranda de Castro – Visgarolho

Titulo: 4420
Autor: Pedro Miranda de Castro
Nº Páginas: 140
Editora: Visgarolho
ISBN: 978-989-53167-7-9
Sinopse:
Filipe, um empregado de armazém existencialista, é o jovem arquétipo do proletariado, moldado numa família coesa mas marcada pelo abandono do patriarca. Nascido nos arrabaldes do Porto, faz-se camaleão no seu meio. Contudo, vive ensimesmado nos seus pensamentos niilistas, afundado numa rotina de precariedade, fervilhando em pensamentos de derrota latente que afoga em prazeres mundanos, abundantes, electrizantes e fáceis no seio do seu sub-mundo. Tudo parece mudar quando Fernando, um dos irmãos de Filipe, é preso por narcotráfico e este é convidado pelo Partido para se tornar representante dos trabalhadores do Armazém. Entretanto, no 4420, incuba-se um novo movimento cultural, encabeçado por Fábio, o irmão mais novo de Filipe, que vem a tomar expressão como outrora acontecera no Bronx.
Num estilo cru, mas repleto de humor, o autor mostra-nos a realidade de muitos jovens dos subúrbios, como quem nos desfere um murro no estômago.
Opinião:
4420, Código Postal de Gondomar. Só a meio do livro me apercebi disso. Até porque este foi o livro que me acompanhou em viagem no regional para Lisboa e eu acho que os restantes passageiros acharam que eu não tinha os parafusos todos no sitio, porque dei por mim a rir sozinha até me virem as lágrimas aos olhos.
Quando se mistura humor com a vida real e crua e se consegue transmitir isso tão bem é porque estamos perante alguém que já vivenciou bastante, tem um grau cultural acima da média e acima de tudo sabe como, quando e o que escrever.
Filipe, o protagonista desta trama, é o jovem típico zé ninguém vindo de uma família disfuncional e meio louca que por intermédio do destino e da sorte (ou azar como preferirem ao ler) se torna alguém. Não é bem um alguém com importância, mas torna-se um “meio” para atingir um fim e para ele já é bom, tendo em conta a vida que leva. Os irmãos, Fernando e Fábio (cada um com os seus “esquemas”) são pontos chave para que Filipe mude o rumo da sua vida sem ser vida, daquela rotina típica de quem já perdeu o norte, dia após dia a trabalhar na fábrica, a ter relações de ocasião, a correr para transportes públicos, a beber até esquecer a dor, as férias na terrinha cheia de emigrantes franceses… Familiares com esta vida? Pois.
Sendo ficção ou não, a vida de Filipe é a vida de tantos. Muitos. Do vizinho do 9º andar. Da jovem empregada do café. Do jardineiro da Junta de freguesia que passa a vida a cortar a erva que cresce sem parar. É a ficção, que a fazer-nos rir mostra a dura realidade de muitos jovens dos subúrbios (e não só) e o que acontece quando não nascemos com aquela estrelinha da sorte ou cheios de dinheiro.
Lê-se como pãozinho acabado de fazer com manteiga e também é um dos meus escolhidos de 2022 sem dúvida. Recomendo!
O Autor:

Pedro Miranda de Castro nasceu no Porto em 1989. Tornou-se Mestre em Ciências Farmacêuticas em 2013 e Doutorado em Biotecnologia em 2018. Foi investigador na Universidade Católica Portuguesa e colaborou com as Universidades de Bolonha e Buenos Aires. Hoje é Investigador no Instituto de Soldadura e Qualidade e Professor no Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Escreveu os romances “4420” e “Viagem” – obra vencedora da edição de 2019 de Ficção Narrativa Montijo Jovem – assim como vários contos (e.g. “Belzebu, o Sem-abrigo”, “Cartas de um Astronauta em Tempos de Pandemia”, “As Fantásticas Aventuras do Marinheiro Zé Fusco”) e poemas. No presente, amadurece um novo romance: “Ao Largo dos Meridianos”.
Posted on 5 de Janeiro de 2023, in Geral, Reviews, Sem categoria and tagged pedromirandadecastro, visgarolho. Bookmark the permalink. Deixe um comentário.
Deixe um comentário
Comments 0