Arquivos de sites
Opinião – Melancholia – Francisco José Viegas – Porto Editora

ISBN: 978-972-0-03470-0
Edição/reimpressão: 09-2022
Editor: Porto Editora
Páginas: 336
Sinopse:
Ao longo de um ano, entre um encontro literário na Póvoa de Varzim e o início da pandemia, ninguém soube do paradeiro de Cristina Pinho Ferraz, escritora extravagante, premiada e temida. Até que, nos jardins românticos do Palácio de Cristal, no Porto, a coberto da copa das árvores, apareceu um corpo enterrado sob a terra, dividido em várias partes.
Porém, a nova investigação do inspetor Jaime Ramos (que entretanto fora substituído na divisão de homicídios) não começa com a descoberta desse cadáver; pelo contrário, obriga-o a recuar no passado, a ouvir testemunhos sobre vaidade, vingança, literatura e ambição, e também histórias de família ou de amor e melancolia.
Enquanto o confinamento se espalha sobre vivos e desaparecidos, Jaime Ramos reconstitui a biografia daquela mulher e a história de uma família e de uma genealogia do poder nas margens da tradição judaica portuense, confrontando-se mais uma vez com as suas obsessões: a ameaça da idade e da memória, a fragilidade dos velhos e a reconstituição do passado. Então, o que poderia ser apenas uma história de inveja e traição entre intelectuais desavindos e cómicos, transforma-se num inquérito sobre a melancolia portuguesa.
Opinião:
Melacholia foi o meu policial de estreia de Francisco José Viegas. Apesar de agora saber que existem várias obras protagonizando Jaime Ramos, sendo que a personagem faz 30 anos de existência, não me arrependo de ter começado por este, até porque é uma obra que pode ser lida sem termos lido as anteriores. Jaime Ramos foi substituído na divisão de homicídios e anda um pouco à deriva…a idade não perdoa, os anos de trabalho também não. Mesmo afastado da sua função nas autoridades, vai na mesma encetar investigações no âmbito do desaparecimento de uma escritora de renome Cristina Pinho Ferraz, que ao que tudo indica, em plena pandemia “ganhou sumiço” e ninguém deu conta. E entretanto é encontrado um corpo nos Jardins do Palácio de Cristal no Porto. Bom, mas tudo isto pode ser lido na Sinopse. O que vos queria dizer, é que este livro é um veiculo para reflexão, para repensarmos a forma como vivemos e agimos, a nossa própria essência e quando nos é retirado parte do que somos ou sabemos fazer ficamos tendencialmente inertes e sem reação. Entramos em melancolia. Jaime Ramos, com toda a sua personalidade forte e bem vincada, deixa-se envolver num rol de situações que o obrigam a voltar ao passado, que o obrigam a lembrar aquilo que queria ter esquecido, que o obrigam a ser aquilo que ele ainda não entende que já o é. Gostei particularmente que parte da história se tenha centrado no meio literário entre autores, pseudo autores, editores, curiosos, mal dizentes e escritores fantasma. Como a narrativa está colocada, conseguimos entender bem o meio, as suas lacunas, as suas farsas, e como parece que meio Mundo quer sempre ser mais do que é ou ser outra coisa.
Tive a oportunidade de ir a uma das apresentações desta obra (podem ver aqui) e conhecer o autor e ouvir do próprio (e do incrível Carlos Vaz Marques e Sofia Fraa) o que a mesma representava e significava e não me desiludi em nada e só posso sem duvida recomendar e ansiar pela leitura das obras anteriores.
O Autor:

Francisco José Viegas nasceu em 1962. Professor, jornalista e editor, é responsável pela revista Ler e foi também diretor da revista Grande Reportagem e da Casa Fernando Pessoa. De junho de 2011 a outubro de 2012 exerceu o cargo de Secretário de Estado da Cultura. Colaborou em vários jornais e revistas, e foi autor de vários programas na rádio (TSF e Antena 1) e televisão (Livro Aberto, Escrita em Dia, Ler para Crer, Primeira Página, Avenida Brasil, Prazeres, Um Café no Majestic, A Torto e a Direito, Nada de Cultura). Da sua obra destacam-se livros de poesia (Metade da Vida, O Puro e o Impuro, Se Me Comovesse o Amor) e os romances Regresso por um Rio, Crime em Ponta Delgada, Morte no Estádio, As Duas Águas do Mar, Um Céu Demasiado Azul, Um Crime na Exposição, Um Crime Capital, Lourenço Marques, Longe de Manaus (Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores 2005), O Mar em Casablanca, O Colecionador de Erva, A Poeira que Cai sobre a Terra e Outras Histórias de Jaime Ramos e A Luz de Pequim (Prémio Fernando Namora 2020 e Prémio PEN 2020 Narrativa).